Vamos começar este artigo lendo dois textos. Ao ler, vamos tentar entender o assunto de que trata cada um deles:
EXEMPLO 1
O processo de importação de produtos para o Brasil é bem simples e ágil. Você não precisa contratar um despachante nem sair de casa para buscar um produto importado. Na verdade, o processo hoje é tão simples que você recebe a sua mercadoria em casa em questão de dias e paga os impostos através de boleto bancário ou diretamente em uma agência dos Correios. [CAP_ED_09]
EXEMPLO 2
A Comissão de Fiscalização e Controle será integrada por dezessete membros titulares e nove suplentes. Na Rua das Pedras, a cada 20 passos você tem um lugar diferente. O processo de importação de produtos para o Brasil é bem simples e ágil. É proibido qualquer tipo de alteração que venha a ser feita nos fins estabelecidos neste contrato.
A primeira coisa que ressalta quando lemos é que o EXEMPLO 1 faz sentido. Ele trata de explicar como é simples o processo de importação para o Brasil via Correios. Agora, o EXEMPLO 2 está estranho e não dá para entender o que está sendo dito. Quando a gente lê o EXEMPLO 2, sentimos a necessidade de voltar no início e tentar ler de novo, mas ainda assim ele continua estranho. Então chegamos à conclusão que as frases do EXEMPLO 2 até que fazem sentido quando lemos cada uma separada; o problema é quando estão juntas, é aí que o sentido se perde.
Por exemplo, a frase “A Comissão de Fiscalização e Controle será integrada por dezessete membros titulares e nove suplentes” faz sentido. Conseguimos entender que existe uma comissão que se chama Fiscalização e Controle. Além disso, dá para entender também que nessa comissão trabalham dezessete pessoas, sendo que existem ainda outras nove pessoas que são suplentes.
Já quando juntamos as frases, “A Comissão de Fiscalização e Controle será integrada por dezessete membros titulares e nove suplentes. Na Rua das Pedras, a cada 20 passos você tem um lugar diferente” já não dá para entender. Afinal, o que “andar na Rua das Pedras” tem a ver com as pessoas que trabalham na comissão?
Ao lermos o EXEMPLO 2, deu para entender que a Rua das Pedras tem muitos atrativos, pois só de andar um pouquinho nela já encontramos coisas diferentes. Porém, quando esse tipo de informação vem logo depois da Comissão de Fiscalização e Controle, realmente, não faz o menor sentido.
Mas, como pode ser possível isso? Por um lado, as frases sozinhas fazem sentido; mas por outro lado, quando são colocadas juntas, nós não conseguimos mais entender?
Você já tinha parado para pensar nisso? Que apesar de parecer que um texto é feito de palavras e frases, na verdade não é. E que aparentemente uma sequência de frases juntas forma um texto, mas na verdade não forma?
Então, o que será que faz um amontoado de frases se transformar em um texto que faz sentido? Como será que a “mágica” dessa transformação acontece?
Entender essa mágica é muito importante, pois pode nos ajudar a escrever e falar melhor – de uma forma mais coerente. Mas também nos ajuda a ler melhor – e assim conseguimos entender quando as coisas que estamos lendo de fato fazem sentido, ou são apenas um monte de frases soltas que foram colocadas em um mesmo balaio.
Além disso, em muitas situações da nossa vida nós somos avaliados justamente nesse ponto. É precisamente esse o problema que está aparecendo quando uma professora da escola, uma corretora de redação de concursos ou do ENEM tira pontos porque o nosso texto não está coerente; ou também quando escrevemos um documento no trabalho que acaba “mal-escrito”.
A mesma coisa acontece nos textos falados. Todos nós já ouvimos a expressão: “falou, falou, mas não disse nada!” Bem, é esse mesmo problema que estamos identificando (que não basta um monte de frases para formar um texto).
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A partir de agora, vamos dar início a uma série de 3 artigos que vão tratar justamente desse tema.
O nosso objetivo será, ao longo desses 3 artigos, tentar responder à seguinte pergunta: “Como a língua se transforma em texto?”
Nesses 3 artigos, estaremos interessados em entender como a escolha de uma palavra e depois de outra palavra, e depois de outra… e a escolha de uma frase, e depois de outra frase, e depois de outra… e assim por diante, vão se acumulando e se ligando uma na outra para, no final, produzir um texto que é coerente – o texto se torna uma unidade, de modo que nem as palavras, nem as frases, podem ser mais vistas separadamente.
Aqui, neste primeiro artigo, vamos tratar do assunto ‘acúmulo de significado’. Como deu para perceber pelos EXEMPLOS 1 e 2, o significado de um texto não está nas palavras, nem nas frases de forma isolada. A segunda frase precisa fazer sentido junto com a primeira; e a terceira frase precisa fazer sentido junto com a primeira e com a segunda, e assim por diante. Em outras palavras, o significado das frases precisa ir acumulando para, juntas, todas fazerem sentido.
No segundo artigo , vamos tratar do assunto ‘tessitura’. Nesse artigo, iremos apresentar os mecanismos que a língua desenvolveu para “amarrar” uma palavra na outra até formar as frases e depois “costurar” uma frase na outra até, por fim, “colar” os pedaços de texto de forma que, no final, todas as palavras, frases e pedaços de textos estejam bem “amarrados, costurados e colados” para que tudo faça sentido junto.
Por fim, no terceiro artigo , vamos tratar do assunto ‘registro’. Nesse terceiro artigo, vamos explicar como o sistema da língua é configurado para produzir textos diferentes.
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Já está dando para observar que “Como a língua se transforma em texto?” é uma pergunta difícil e complexa, e por isso não é fácil de responder com poucas palavras. Essa pergunta envolve (i) acúmulo de significado – ou como que o significado de cada palavra e frase vai se juntando para formar um significado maior; (ii) tessitura – ou como as partes do texto vão sendo relacionadas (“amarradas”) para fazerem sentido juntas; e (iii) registro – qual é a motivação que ocorre para que as partes que são amarradas se tornem uma só, formando um fluxo homogêneo de significado que é típico de cada tipo de texto.
Para começar a responder à pergunta, damos início aqui pelo acúmulo de significado. Para isso, vamos precisar entender alguns conceitos importantes que explicam o que é o significado. Pois é somente quando entendemos o significado é que podemos avaliar se um texto faz ou não sentido. Depois, vamos passar a um outro conceito importante, que é como o significado vai sendo acumulado. Por fim, vamos examinar como esse processo de produção de significado ajuda a transformar a língua em texto.
O TECIDO DO TEXTO
Em 1956, o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto publicou o poema Tecendo a Manhã. Esse poema de João Cabral de Melo Neto cria uma imagem muito bonita de como uma manhã surge, e podemos usar essa imagem como uma analogia para como surgem os textos.
Tecendo a Manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele deu
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
O poema começa afirmando que para a manhã aparecer, ela depende de mais de um galo. Mas, não é apenas a quantidade de galos que consegue fazer surgir a manhã. Além dos galos, a manhã de João Cabral depende do entrelaçamento entre os gritos dos galos. João Cabral usa termos como ‘fios’, ‘teia’, ‘tecendo’, ‘tela’ e ‘tecido’ para explicar como cada galo está ligado a todos os outros galos.
E, chega um momento em que os galos e seus gritos não são mais importantes, e o que sobra é somente as relações entre eles, no ‘tecido tão aéreo’, pois é essa ligação entre os galos (e não os galos) que faz surgir a manhã.
Essa imagem ajuda muito para começarmos a entender como a língua se transforma em texto. Se os itens da língua – como verbos, adjetivos, substantivos, frases, parágrafos, etc. – são os galos, o texto é a manhã, “tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão”.
Aliás, não é por acaso, que a palavra ‘textus‘ que vem do latim significa justamente ‘algo que foi tecido’ ou ‘entrelaçamento’, e ela própria já dá a ideia de que o texto é uma rede de relações, portanto entrelaçadas, assim como um pedaço de tecido é uma rede entrelaçada dos fios.
O ACÚMULO DE SIGNIFICADO
Acumular significado é a capacidade que a língua possui de relacionar os significados para que, de forma conjunta, produzam um significado maior, que chamamos de ‘macro-significado’.
Por exemplo, o item linguístico ‘casa’ tem o significado de:
‘substantivo; nome de um objeto; um lugar que as pessoas moram’.
Ou o item linguístico ‘azul’ tem o significado de:
‘adjetivo; qualidade de um objeto; uma cor parecida com o céu, ou com a água do mar’.
Nós podemos juntar os dois significados e formar ‘casa azul’.
Com isso, podemos perceber que os dois significados, de ‘casa’ e de ‘azul’, foram acumulados e, agora, de forma conjunta, produzem um significado maior, que é:
‘grupo nominal [substantivo + adjetivo] [nome de um objeto + qualidade de um objeto]; um lugar que as pessoas moram é da cor do céu, ou da água do mar’.
Assim, ‘casa azul’ é um macro-significado, composto pelos significados simples de ‘casa’ e ‘azul’.
Em ‘casa azul’ exemplificamos como dois significados se acumulam. Mas a língua tem a capacidade de acumular muito mais… literalmente milhões de vezes mais. Quanto maior e mais complexo for um texto, mais significado ele é capaz de acumular.
‘Casa azul’ é um macro-significado muito pequeno, e por isso acumula pouco. Já a frase “O processo de importação de produtos para o Brasil é bem simples e ágil” tem um tamanho mais extenso e é mais complexa, por isso é um macro-significado maior do que ‘casa azul’.
Já os versos de João Cabral “a manhã, toldo de um tecido tão aéreo, que, tecido, se eleva por si: luz balão”, acumulam-se em um macro-significado ainda maior, tanto pelo tamanho, quanto pela complexidade. Além dos significados de ‘manhã’, ‘aéreo’ ou ‘eleva’, os versos trazem, ainda por cima, os significados poéticos (a manhã não é somente ‘uma parte do dia’; nem ‘aéreo’ é apenas ‘o que é do ar’).
UNIDADES DE INFORMAÇÃO
Apesar de ‘casa’ significar ‘substantivo; nome de um objeto; um lugar que as pessoas moram’, dependendo da rede de relações que faz com outros itens, o próprio significado de casa vai mudando. E, em cada relação com outros itens, ‘casa’ tem um significado um pouquinho diferente, por exemplo:
‘casa azul’ é diferente de
‘casa velha’, que é diferente de
‘velha casa’, que é diferente de
‘casa própria’, que é diferente de
‘própria casa’, que é diferente de
‘casa da moeda’, que é diferente de
‘casa de material de construção’, que é diferente de… etc.
Observando esses exemplos, podemos concluir que os macro-significados mais complexos são produzidos da seguinte forma: (1) os significados simples são colocados juntos; (2) quando estão juntos, acabam formando assim uma rede de relações entre si; (3) nessa rede, o significado não está apenas em cada significado simples isolado; e (4) por isso, se consideram não apenas cada significado individualmente, mas também a relação entre eles.
Retomando a analogia entre texto e tecido, esse é exatamente o mesmo caso. Um pedaço de tecido não é apenas um conjunto de fios de algodão ou de linho. De maneira diferente, o tecido é o entrelaçamento entre os fios, que forma uma rede de fios.
Na rede da língua, os significados passam a ser as unidades que formam um conjunto mais amplo, entrelaçado. Assim, cada significado acrescenta mais um pouco de informação ao macro-significado global do texto.
Por isso, um significado deixa de ser entendido de forma simples, como se fosse apenas um significado simples (por exemplo, ‘casa’, ‘azul’, ‘balão’), e passa a ser entendido como parte das relações complexas que estabelece (por exemplo no poema de João Cabral ‘galo’ deixa de ser um bicho e passa a ser ‘a coisa que tece a manhã’).
Por esse motivo, quando os significados formam uma rede de relações, a Linguística dá um nome diferente para eles, e passam a ser chamados de unidade de informação. Em outras palavras, ‘unidade de informação’ é o termo técnico que a Linguística dá para os significados que se acumulam em um texto para formar um macro-significado.
Quando está sozinho, o significado se chama significado mesmo. Mas, quando forma parte de uma rede com outros significados, passa a se chamar ‘unidade de informação’. É semelhante ao caso do item ‘açúcar’, que no contexto da química alimentar, passa a se chamar ‘carboidrato’.
O conjunto composto por significados simples (agora, entendidos como ‘unidades de informação’) e pela rede de relações entre eles forma os significados mais complexos, que são chamadas de macro-unidades de informação. Com isso, uma macro-unidade de informação é definida como o acúmulo de informação produzido pela conjunção de unidades de informação simples; ou seja, pelas unidades de informação mais as suas relações.
Lá no início do artigo, nós colocamos a pergunta: “Como a língua se transforma em texto?” E o início da resposta começa por aqui. A língua tem uma capacidade de juntar significados simples para formar macro-significados. Quando junta esses significados simples, constrói relações entre eles, formando as unidades de informação. Os significados simples passam a querer dizer coisas diferentes quando se relacionam com outros significados simples. Por isso, tanto os itens simples, quanto as relações possuem significado. Assim, a língua consegue acumular informação e começar a se transformar em texto.
EXEMPLO DE COMO AS UNIDADES DE INFORMAÇÃO SE ACUMULAM NA LÍNGUA
Vamos agora observar com mais detalhe como acontece o acúmulo de significado na língua. Para isso, vamos usar um texto como exemplo. Vamos utilizar um texto do gênero procedimento – mais especificamente, é uma receita de asinhas de frango – porque é um texto bastante simples.
TEXTO 1 [FAZ_EM_12] Ingredientes para 4 a 6 pessoas: 12 asinhas de frango 1 colher de chá de cominho em pó 1 colher de chá de coentro em pó 1 colher de chá de colorau 1 colher de café de piri-piri moído sal. Preparação: Tempere as asinhas de frango com as especiarias e o sal e deixe tomar gosto algumas horas. Coloque-as num tabuleiro e leve-as para assar em forno aquecido (180ºC) durante cerca de 45 minutos ou asse-as no churrasco até ficarem bem cozidas. Coloque numa travessa e polvilhe com coentro fresco picado. Sirva com um molho de sua preferência – maionese, molho agridoce – batata frita e uma bebida fresca. Bom Apetite! |
Na nossa vida diária, quando estamos na cozinha preparando a nossa comida, realizamos essa atividade em etapas. Por exemplo, para realizar a atividade de fazer as asinhas de frango, é preciso dividir essa atividade em algumas etapas, e ir realizando uma após a outra, desde começar separando os ingredientes, até servir a comida pronta no final.
Dessa maneira, primeiro, a pessoa que está cozinhando cumpre uma etapa, que é a preparação. Preparar a comida significa: temperar e cozinhar. Depois que as asinhas estão preparadas, cumpre uma outra etapa, que é servir: colocar em uma vasilha adequada, junto com os molhos, acompanhamentos e bebidas.
A receita é um texto. E o que a receita faz é representar, na forma de língua, a atividade de cozinhar da nossa vida. Em outras palavras – a receita é o texto que produz os significados da atividade de cozinhar.
O texto da receita é uma macro-unidade de informação. Portanto, é o resultado de muitas unidades de informação que vão se acumulando e formando uma rede de relações. Com isso, na receita, cada unidade de informação de um ingrediente (ex.: ‘asinha’, ‘coentro’, ‘sal’, etc.), procedimento (ex.: ‘tempere’, ‘coloque’, ‘asse’, etc.) ou recipiente (ex.: ‘tabuleiro’, ‘forno’, ‘churrasco’, etc.) é colocada junta com as outras para que elas formem uma rede.
Primeiro, as unidades de informação dos ingredientes ‘asinha de frango’, ‘especiarias’ e ‘sal’, junto com o significado do procedimento ‘temperar’ formam uma rede. As relações delas na rede se acumulam, formando uma macro-unidade que podemos chamar de ‘temperar’. Assim, no texto da receita, a macro-unidade de informação ‘temperar’ é composta pelas unidades ‘asinha’, ‘frango’, ‘especiarias’, ‘sal’ e suas relações.
Se juntarmos a macro-unidade de informação de ‘temperar’ – que é: ‘asinhas de frango temperadas com sal e especiarias’ – com os procedimentos ‘colocar’ e ‘assar’, os recipientes ‘tabuleiro’ e ‘forno’ e adicionarmos os significados de tempo ‘45 minutos’ e ‘bem cozidas’, então teremos uma macro-unidade ainda maior, que chamamos de ‘preparar’.
Na Figura 2, temos uma ilustração de como as unidades de informação se acumulam no texto. Os significados simples vão se acumulando para formar macro-significados complexos de ‘temperar’ e ‘cozinhar’. É interessante observar como que os significados vão se entrelaçando para formar o ‘tecido do texto’. Se nós formos traçando linhas que ligam todos os significados simples, de forma a mostrar como as relações são feitas, o texto realmente começa a ficar entrelaçado, como uma peça de tecido.
A PRODUÇÃO DE SIGNIFICADO
Até aqui, estamos tratando o significado de uma forma bastante geral, que pode ser entendido mais ou menos como ‘o que as palavras querem dizer’. Porém, para avançarmos com a nossa explicação, vamos precisar definir ‘significado’ de uma forma um pouco mais técnica, de acordo com a Linguística.
O signo
Muitos animais, incluindo nós, os seres humanos, temos a capacidade de identificar um objeto e, imediatamente, relacionar esse objeto com alguma coisa que esse objeto significa, ou o que esse objeto quer dizer para nós. Os animais, incluindo nós humanos, temos a capacidade de identificar se alguma coisa é boa ou ruim, se é perigosa, se é alimento, se é segura, se está viva ou é objeto inanimado, etc.
No caso de muitos animais, grande parte dessa capacidade é dada por instinto; mas, no caso dos animais mais inteligentes, incluindo o ser humano, além do instinto, nós também temos muito desenvolvida a capacidade de dar significado simbolicamente para as coisas e acontecimentos do mundo.
Por exemplo, se nós virmos uma casa, imediatamente temos a capacidade de pensar: ‘casa é um tipo de moradia’; ‘casa é feita de tijolo’; ‘casa pode ser própria ou de aluguel’, ‘quando estamos em casa, temos um espaço para a nossa vida privada’, etc.
O que pensamos sobre a casa é também verdade para todo e qualquer objeto. Se imaginarmos um outro objeto, por exemplo uma laranja, então também, assim como a ‘casa’, temos a capacidade de pensar: ‘laranja é uma fruta’; ‘laranja é alimento’; ‘laranja é doce ou azeda’; ‘laranja a gente compra por quilo ou por dúzia’, ‘a laranja vem em mais de uma qualidade, como campista, serra-d’água, bahia’, ‘a laranja dá para fazer suco’, etc.
Em outras palavras, o que nós seres humanos fazemos é cobrir com significado os objetos do mundo. Então, para nós, seres humanos, a casa não é só um monte de tijolo empilhado, nem a laranja é apenas uma coisa que existe no mundo; a casa é ‘o lugar onde as pessoas moram, que podem comprar ou pagar aluguel, etc.’, e a laranja é ‘fruta, alimento, doce ou azeda, comprada por quilo ou dúzia, tem mais de uma qualidade, etc.’
Essa ‘camada de significado’ acontece com todas as coisas do mundo humano. E, mais ainda, não é somente com as coisas, mas também com os lugares, os animais, o tempo, as outras pessoas, os sentimentos, os fenômenos da natureza, os acontecimentos, os nossos pensamentos, e assim por diante.
Essa capacidade humana de ‘cobrir de significado’ qualquer coisa ou acontecimento faz com que tudo para nós possua significado. Por isso, no nosso mundo humano, todas as coisas e acontecimentos querem sempre dizer alguma coisa. Aliás, nunca existem coisas no mundo humano que não possuam significado.
Diante disso, podemos tirar duas conclusões importantes:
(i) A língua tem um papel fundamental na vida humana, pois a língua cria uma camada de significado que cobre as coisas e os acontecimentos. Então, é a língua que dá o nome das coisas, e é a língua que explica o que as coisas são e para que elas servem. Como consequência, é a língua que constrói o mundo humano.
(ii) Por causa da ‘camada de significado’ e por causa da língua, todas as coisas existem como objetos e acontecimentos do mundo físico, mas existem também de forma simbólica na nossa língua e no nosso mundo de significados e da imaginação.
Então, ‘laranja’ é aquela coisa física, de formato arredondado, da cor entre amarelo e vermelho, que podemos tocar, sentir o cheiro, comer e fazer suco; mas também laranja é simbolicamente ‘uma palavra que começa com a letra ‘L’ e representa a mercadoria que a gente compra na dúzia e vem na qualidade campista, serra-d’água, etc.’. Isso mesmo: laranja é as duas coisas. Isto porque ela faz parte do mundo humano, que é tanto físico (feito de matéria e energia; de átomos e moléculas) quanto simbólico (feito de língua e de significados).
Do ponto de vista da Linguística, nós precisamos dar um nome técnico para esse “mundo duplo, material e simbólico” humano.
A parte que é física, nós chamamos de expressão, pois ela é o que materializa e expressa as coisas e os acontecimentos. A parte simbólica, nós chamamos de conteúdo, pois ela contém o que as coisas e os acontecimentos querem dizer, bem como a forma como as coisas fazem sentido para nós humanos.
Em todas as coisas, a expressão e o conteúdo estão sempre juntos, e nunca podem ser separados. Nenhum é mais importante que o outro.
Na ‘laranja’, não há como separar ‘o objeto arredondado que podemos comer’ da ‘palavra que começa com ‘L’ e que representa a mercadoria’. Sempre quando vemos, pensamos ou falamos ‘laranja’, estamos tratando das duas coisas ao mesmo tempo. Sem a expressão, o conteúdo não tem como surgir; e sem o conteúdo, a expressão perde seu sentido.
Na Linguística, quando a expressão física de uma coisa se associa ao conteúdo simbólico, nós damos o nome de ‘signo‘. Assim, o signo é a associação de uma expressão a um conteúdo.
No signo, a expressão ganha um novo nome técnico, que é ‘significante’ (porque é aquilo que expressa o que as coisas querem dizer; é ‘aquilo que faz significar’); e o conteúdo ganha o nome de ‘significado’ (porque é ‘aquilo que as coisas querem dizer’).
OBSERVAÇÃO: aqui temos um pequeno problema, que é o uso do termo ‘significado’ para duas coisas. Infelizmente, de vez em quando isso acontece com as teorias científicas: ao longo do tempo, quando o saber sobre uma área aumenta, um termo que era usado de uma forma, passa a ser usado de outras formas também. No nosso caso aqui, ‘significado’ pode ser tanto “o que as coisas querem dizer; o sentido das coisas”, como também pode ser ‘o conteúdo do signo, que é expresso pelo significante’. Na verdade, esses dois termos se complementam. Mas, para tentar evitar esse problema, quando estivermos falando do ‘sentido das coisas’, vamos chamar de significado; e quando estivermos falando de ‘significado = conteúdo’, vamos chamar de ‘significado do signo’.
Exemplos de significado no texto
Essa definição de signo (associação da expressão com o conteúdo) é importante para o assunto que estamos tratando neste artigo, “o tecido do texto”, e também é importante para a nossa pergunta principal, “Como a língua se transforma em texto?”.
Isso porque os significados se relacionam e se transformam em unidades de informação no texto. E, ao mesmo tempo, essas unidades de informação e suas relações formam as macro-unidades de informação no texto. Assim, as macro-unidades de informação também possuem uma expressão e um conteúdo – ou seja, o texto também possui a sua expressão e o seu conteúdo. Porém, como a combinação das unidades de informação simples gera macro-unidades diferentes, então os textos acabam mudando o significado das coisas dependendo de como as unidades simples foram sendo acumuladas e sendo relacionadas.
Para ilustrar, vamos dar um exemplo de como isso acontece em um texto. Nesse texto, aparece o signo ‘sal’.
Normalmente, quando ouvimos ou lemos o signo ‘sal’ isoladamente, ele possui um significado que podemos dizer que é um pouco vago. Em geral, ‘sal’ se refere a uma substância formada por uma porção de cristaizinhos brancos, geralmente encontrado no mar, que têm gosto salgado. Outros significados mais específicos para ‘sal’ vão depender, na verdade, do texto em que esse signo aparece, da unidade de informação em que se transforma e das relações que estabelece na macro-unidade de informação.
Por exemplo, se ‘sal’ fizer parte dos ingredientes de uma receita, passa a ter mais significado. O signo ‘sal’ se torna a expressão do conteúdo ‘ingrediente: tempero’ no signo ‘ingrediente: tempero/sal’. Assim, existe uma chance muito grande de ‘sal’ ser selecionado como unidade de informação para a produção da macro-unidade ‘tempere com sal’ (como foi o caso do TEXTO 1, apresentado anteriormente).
Contudo, se ‘sal’ for selecionado como unidade de informação em outra macro-unidade de informação, o seu significado poderá ser diferente. Por exemplo:
TEXTO 2 [CAP_EM_44] Lavagem Externa Depois de uma viagem, o barco se enche de sal. Não que seja prejudicial, os materiais externos são feitos para isto, mas o sal é desagradável pois não se pode encostar nas paredes. Em lugar de ir a uma academia de ginástica, fazemos estas tarefas que não são desagradáveis, ao contrário, dão prazer. Primeiro, passo Quita-Oxi ou qualquer removedor de ferrugem nos pontos que eventualmente começam a aparecer manchas. Em seguida, uso uma vassoura de pêlos curtos, uma esponja e um balde com água misturada com shampoo de lavar barcos ou carros. |
No TEXTO 2, o signo ‘sal’ continua sendo ‘uma porção de cristaizinhos brancos’. Mas, quando faz parte de uma macro-unidade, como em “o barco se enche de sal”, ele se torna um tipo de sujeira que se acumula nos barcos.
É assim que o signo ‘sal’, quando se relaciona a outras unidades simples – como ‘barco’ e ‘enche’ – forma parte de uma macro-unidade de informação. E, com isso, passa a adquirir outro sentido. Neste último caso, o item ‘sal’ se torna a expressão do conteúdo ‘sujeira de barco’ no signo ‘sujeira de barco/sal’. Se no primeiro caso, o tempero ‘sal’ pôde ser comparado a ‘molho’ ou ‘azeite’; no segundo, pode ser comparado a ‘ferrugem’ ou ‘mofo’.
No próximo TEXTO 3, ‘sal’ ainda quer dizer outra coisa. De novo, ‘sal’ permanece ‘uma porção de cristaizinhos brancos’, mas neste outro texto, forma um novo signo, o de ‘composto químico/sal’ (geralmente pela reação química entre uma base e um ácido ;-).
TEXTO 3 [Brasil Escola LINK https://brasilescola.uol.com.br/quimica/reacao-dupla-troca-entre-sais.htm]
Reação de dupla troca entre sais:
A reação de dupla troca entre sais é o nome dado ao fenômeno químico que ocorre sempre que realizamos a mistura de dois sais que não apresentam o mesmo cátion nem o mesmo ânion. O resultado dessa reação é sempre a formação de dois novos sais.
a) Critério para a ocorrência de uma reação de dupla troca entre sais
A fórmula geral de um sal é XY, em que X (o primeiro componente da fórmula do sal) é sempre o cátion e Y (o segundo componente da fórmula do sal) é o ânion.
Se misturarmos em um recipiente, por exemplo, uma solução de cloreto de sódio (NaCl) e outra solução de iodeto de sódio (NaI), não acontecerá a reação de dupla troca porque o cátion (sódio – Na) presente nos dois sais é o mesmo.
Agora se misturarmos em um mesmo recipiente uma solução de cloreto de sódio (NaCl) e uma solução de iodeto de potássio (KI), acontecerá a reação de dupla troca porque os cátions (Sódio – Na e Potássio – K) e os ânions (Cloreto – Cl e Iodeto – I) presentes nos sais são diferentes.
Ainda, ‘sal’ pode ser outras coisas, como no TEXTO 4, em que ‘sal’ forma um signo diferente, o de ‘defesa espiritual/sal’.
TEXTO 4 [FAZ_EM_11]
Faça três saquinhos com pano branco e coloque em cada um uma pequena folha de papel em branco. Agora atenção: No primeiro saquinho coloque dentro da folha, três porções de trigo; no segundo, sete ou treze alfinetes, no terceiro, três punhados de sal grosso. Tome um banho de alecrim. Em seguida se arrume, vista uma roupa clara, de preferência branca e saia de casa. Quando estiver bem longe, jogue o trigo e diga:
“São Bento, São Cipriano, São Tomás e Jesus comigo; se vocês estão comigo, nada, ninguém poderá contra mim, jamais!”
Continue andando e mais distante jogue os alfinetes e repita as mesmas palavras. siga em frente e jogue o sal, repetindo a prece.
A PRODUÇÃO DE SIGNIFICADO É DINÂMICA, E SEMPRE ESTÁ EM MOVIMENTO
A palavra ‘dinâmica’ vem do grego ‘δυναμισ (força)’ e significa ‘alguma coisa que é posta em movimento pela força’. Assim, quando dizemos que a produção de significado na língua é dinâmica, queremos dizer que os significados em um texto não estão lá parados porque todos foram criados ao mesmo tempo.
Ao contrário, estamos dizendo que, à medida que um texto vai sendo escrito, ou vai sendo falado/sinalizado, novas unidades de informação são acrescentadas ao texto a todo momento, e essas novas unidades vão construindo relações com as outras unidades que já estavam antes para serem acumuladas.
Como analogia, podemos dizer que o texto se parece muito mais com um filme do que com uma fotografia.
Na fotografia, tudo o que precisamos ver está lá, apresentado de uma só vez. Mas no filme, as coisas vão acontecendo aos poucos e dependem do passar do tempo. No caso do texto, como o significado vai sendo acumulado, esse processo leva tempo. Afinal, é impossível falar todas as palavras que precisamos de uma só vez, ou ler um texto inteiro em um segundo; criar significado leva tempo. Por isso, ele dá para o texto essa característica de movimento. É esse processo de ir acumulando significado que chamamos de produção dinâmica de significado.
E, por que essa produção dinâmica de significado é importante para o tema que estamos tratando aqui?
Bem, ela é importante para a pergunta ‘Como a língua se transforma em texto?’ por causa do ‘se transforma’. Essa transformação não acontece em um segundo, por isso leva tempo para a língua ir se transformando em texto. E esse ‘ir se transformando’ acontece justamente por causa das unidades de informação que vão se acumulando, e da forma como vão se acumulando, para criar significados diferentes.
Para ilustrar esse dinamismo, vamos apresentar o TEXTO 5 a seguir. Esse texto tem como gênero uma descrição e, mais especificamente, é uma taxonomia. A taxonomia é o texto que usamos para classificar as coisas. No caso, o TEXTO 5 classifica os tipos de fungos.
TEXTO 5 [XPL_EM_12] Os fungos podem ser decompositores, parasitas ou mutualísticos. Os decompositores (ou saprófitas) são fungos que se nutrem da matéria orgânica do corpo de organismos mortos (ou de partes que podem se destacar de um organismo, como pele, folhas e frutas que caem no solo), provocando a sua decomposição. Certos fungos, por exemplo, causam o apodrecimento de frutas ou de restos de vegetais e animais. Os parasitas são aqueles que vivem à custa de outro ser vivo, prejudicando-o e podendo até matá-lo. Muitas doenças dos vegetais são provocadas por fungos parasitas, como aqueles que atacam as folhas do café, causando a “ferrugem do café”. Nos seres humanos, podemos citar o fungo Candida albicans, que pode se instalar na boca, faringe e outros órgãos, provocando o “sapinho”. Os mutualísticos são aqueles que se associam a outros seres e ambos se beneficiam com essa associação. O líquen, por exemplo, é uma associação entre um fungo e uma alga. A alga, que tem clorofila, faz fotossíntese, produzindo alimento para ela e para o fungo. Este, por sua vez, absorve do solo água e sais minerais, que são, em parte, cedidos para a alga. |
Para organizar o conhecimento sobre os seres vivos, os biólogos usam determinados critérios. Esses critérios são as semelhanças e diferenças entre os seres vivos, que por sua vez os separam em classes.
No caso dos fungos, os biólogos separam em três classes: decompositores, parasitas e mutualísticos. Como podemos ver no TEXTO 5, essa separação acontece segundo suas características: nutrição de organismos mortos, nutrição de organismos vivos e associação a outros seres.
Assim, o texto da taxonomia também produz os significados relativos às classes e aos critérios de agrupamento entre os fungos. Para cumprir esse objetivo, o texto precisa apresentar definições das diferentes classes e, em seguida, explicar suas características. Na classificação, os significados relativos aos fungos, às características dos fungos e aos critérios de semelhanças e diferenças são produzidos a partir do acúmulo de significado.
Para analisar o aspecto dinâmico da produção de significado, vamos tentar entender quais os elementos que são mais característicos das taxonomias. Quando observamos cada oração do texto da taxonomia, podemos separar os eventos que cada oração realiza basicamente em dois grupos, como podemos observar no Quadro 1.
QUADRO 1 – Os grupos principais de eventos que realizam a taxonomia no TEXTO 2
EVENTOS | QUANTIDADE | |
1 definições | podem ser, são, são, são, é, tem, | 5 |
2 características e explicações | se nutrem, podem se destacar, provocando, causam, vivem prejudicando, podendo matar, são provocadas, atacam, causando, pode se instalar, faz, produzindo, absorve, são cedidos | 14 |
Analisando o TEXTO 5, podemos observar que os eventos são separados em dois grupos. O primeiro grupo são (1) as definições das classes; e o segundo grupo são (2) as características e explicações que separam uma classe das outras classes.
Com isso, podemos dizer que as definições (“os fungos podem ser…”; “os decompositores são…”; “os parasitas são…” e “os mutualísticos são…”) e as explicações (nutrir, causar, matar, atacar, etc.) são os tipos de unidade de informação que mais contribuem para a produção da taxonomia.
Contudo, no TEXTO 5, não é qualquer definição que serve para uma classe de fungos; e da mesma maneira, cada classe de fungo exige uma explicação específica. Por esse motivo, a produção dinâmica mostra como as definições e explicações vão tecendo, ao longo do tempo, a rede de relações que irá ao final construir o texto.
Em outras palavras, a dinâmica (desenvolvimento no tempo) mostra como a produção de significado (as unidades de informação) gera o acúmulo de informação (a história de como o texto foi tecido).
No desenvolvimento do TEXTO 5, as definições introduzem um significado de classificação; em seguida, explicam as características dessa classe (ver Quadro 2).
QUADRO 2 – Classificação no TEXTO 5
Os decompositores (ou saprófitas) | são | fungos [que + se nutrem + da matéria orgânica do corpo de organismos mortos]. |
Os parasitas | são | aqueles [que + vivem + à custa de outro ser vivo] |
Os mutualísticos | são | aqueles [que +se associam +a outros seres] |
classe | definição | valor da classe [características e explicações] |
Dessa forma, é possível observar como a língua vai tecendo uma macro-unidade de informação, composta de classe + características e explicações.
Isso é repetido para todas as classes, de forma a produzir o texto, que vai se acumulando com:
[(classe 1 + características e explicações 1) + (classe 2 + características e explicações 2) + (classe 3 + características e explicações 3)]
levando, ao final, a uma grande macro-unidade ainda mais ampla, a qual chamamos de taxonomia.
O QUE SABEMOS SOBRE ‘COMO A LÍNGUA SE TRANSFORMA EM TEXTO?’ ATÉ AGORA
Até este momento, passamos a conhecer alguns pontos importantes sobre a língua e o texto. Recapitulando o que vimos ao longo do artigo:
(i) a primeira característica dos textos é que eles não são feitos de palavras ou frases, mas, na verdade, que os textos são feitos de significados;
(ii) uma propriedade importante dos significados é que eles se acumulam e formam macro-significados;
(iii) essas duas ideias juntas mostram como os significados formam macro-significados no texto. Para isso acontecer, os significados devem se relacionar uns com os outros de uma maneira bem específica, de forma que o texto faça sentido;
(iv) os significados formam relações entre si para se acumularem no texto e, com isso, se transformam em unidades de informação do texto;
(v) o ‘signo’ é formado por uma expressão e um conteúdo. O significado de um signo pode mudar, dependendo do texto. Por exemplo, ‘sal’ pode ter o significado de ‘tempero’, ‘sujeira’, ou ‘defesa espiritual’ dependendo do texto.
(vi) Se um texto é uma macro-unidade de informação, então isso quer dizer que: dependendo da forma como as unidades simples se relacionam, o seu significado pode mudar; logo, o significado de uma unidade de informação depende das macro-unidades das quais ela faz parte;
(vii) Dinamicamente, a língua acumula informação.
Apesar dessa grande quantidade de características e propriedades sobre como a língua se transforma em texto, precisamos ainda explicar qual é a natureza da relação entre produção e acúmulo.
Em outras palavras, resta ainda responder às perguntas:
i) Por que a língua acumula informação sobre os signos que ela tece juntos?
ii) Qual é a propriedade da língua que faz com que, além dos signos, a relação entre eles também gere significado?
iii) Como é possível que a língua construa uma história da produção – que é também o texto?
Existem outros recursos que “amarram” os significados de forma a acumular informação e formar macro-significados. Nesse processo de acumular os significados, dois elementos da organização do sistema são muito importantes: a tessitura e o registro.
A resposta para essas perguntas está relacionada à tessitura e ao registro, e esse será o assunto da segunda parte, que está no link.