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A medida da língua - Vai um linguista aí?

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A medida da língua

Design sem nome

Quando vamos fazer uma comida que não conhecemos bem, geralmente recorremos à receita para garantir que tudo saia certo. Para a comida ficar boa, é importante seguir a receita porque ela traz não apenas os ingredientes, mas também as quantidades exatas de cada um deles e o modo de preparo. Quando não obedecemos a receita, a chance é grande de a comida não cozinhar direito, ficar mal temperada ou até mesmo queimar. Aqui segue o exemplo de uma receita de purê de batata com palmito:

Por causa da receita, conseguimos fazer um prato e ter certeza de que vamos usar as quantidades corretas dos ingredientes e seguir o modo de preparo para sair tudo certo. Mas, nem sempre foi assim…

Até o início do séc. XIX, cada lugar adotava uma medida diferente para as quantidades. Para a nossa receita, por exemplo, as pessoas no Brasil daquela época iriam colocar 2,178 arretéis de batata (equivalente a 1 kg). Já na Espanha, na França ou na Inglaterra, iriam medir a quantidade em libras. Só que na Espanha seriam 2,173 libras, na França 2,042 e na Inglaterra 2,205.

Figura 1 – Comparação de pesos e medidas antigas
Fonte: Barreiros, 1838, p. 27

A lição que fica da receita é que é muito importante para a nossa vida poder medir as quantidades das coisas. Os nossos alimentos – e também os materiais para construir as nossas casas, os tecidos para as nossas roupas, os princípios ativos para os nossos remédios, entre inúmeras outras coisas – vêm em quantidades que precisam ser medidas. E, tão importante quanto medir é padronizar para que todas as pessoas entendam com exatidão as medidas de que estamos tratando.

Estabelecer um padrão para as quantidades é importante porque o contrário – ou seja, trabalhar com medidas diferentes ou imprecisas – leva a muitos erros de medida ou a conflitos de entendimento.

Um exemplo disso é a forma como às vezes as receitas são apresentadas, com medidas como “uma xícara de farinha”, “uma colherzinha de azeite”, ou “pimenta a gosto”. Nesses casos, parece que a pessoa que está cozinhando precisa ter uma “intuição” para adivinhar essas medidas, e assim não errar quando deve acrescentar “duas pitadas de sal”, colocar no “forno médio-baixo”, ou deixar no fogo “até ficar bem coradinho”. Vamos ver isso no próximo exemplo, que é de uma receita de pizza de frigideira.

Nessa receita, quanto será, por exemplo, a medida de ‘uma colher pequena’, ou a quantidade de ‘1 copo’? Afinal, existem colheres pequenas de tamanhos diferentes, assim como copos que cabem quantidades diferentes de leite. No modo de preparo, a mesma coisa acontece, por exemplo com ‘asse até o ponto desejado’; qual será esse ponto? Da mesma forma, é para cobrir com mussarela e molho de tomate… mas, qual a quantidade? Além disso, nem o queijo, nem o molho estavam na lista de ingredientes.

Imagine como seria difícil para a culinária, para a ciência, a engenharia e a economia se cada país adotasse medidas diferentes? Por isso, existe um esforço contínuo em todo o mundo para definir as quantidades das coisas e, da mesma forma, criar padrões universais (ou seja, que todo mundo usa) para medir.

No final do séc. XIX, a partir da Convenção do Metro, foram então estabelecidos padrões para medir muitas quantidades que fazem parte da nossa vida diária, na ciência e no comércio, como por exemplo o ‘metro’ para medir uma quantidade de comprimento, o ‘quilograma’ para medir uma quantidade de massa, o ‘grau’ para quantidade de temperatura e o ‘segundo’ para tempo.

A partir desses padrões, foi desenvolvido o Sistema Internacional de Unidades (SI). Ele é a solução para esse problema antigo: como fazer para medir as quantidades das coisas obedecendo um mesmo padrão, de maneira que todo mundo possa entender e compartilhar as mesmas medidas. É graças a essa padronização que temos uma noção bastante boa – que parece até “intuitiva” – da quantidade que é a distância de 10 metros, ou quanto é a massa de 1 kg de batata.

Além dessas medidas que estamos acostumadas, o SI também tem medidas padronizadas para outras quantidades que são menos conhecidas, como por exemplo a ‘candela’, que é a medida da intensidade luminosa; ‘ampere’ mede corrente elétrica, e o ‘mol’ é usado para medir a quantidade de uma substância.

Quadro 1: Grandezas e Unidades de base do SI
Fonte: BIPM, 2012, p. 28

Para as medidas menos conhecidas, ter uma ideia das quantidades é menos comum, e por esse motivo fica também mais difícil “ter uma intuição” sobre elas. 10 candelas é muita ou pouca luz? Um choque vindo de corrente elétrica de 1 ampere é forte ou fraco? Que tamanho tem 3 mols de moléculas de água?

Somente quando passamos pela experiência de ter que iluminar um ambiente, ou fazer uma instalação elétrica, ou trabalhar em um laboratório de química é que a nossa “intuição” melhora sobre essas medidas.

Com isso, parece que a nossa “intuição” significa na verdade uma relação entre a nossa experiência com as quantidades e o padrão que é usado para medir. Aos poucos, vamos relacionando o comprimento das coisas com a medida ‘metro’; o calor das coisas com a medida ‘grau’ e assim por diante. Quanto mais temos que lidar com uma grandeza no nosso dia-a-dia, e quanto mais usamos o mesmo padrão para medir essa grandeza, maior é então o tanto que entendemos das medidas.

Mas, e no caso da língua? Será que existe uma medida para uma quantidade de língua? Será que a nossa “intuição” pode nos ajudar? Ou será que a resposta para a medida da língua vai ser encontrada em um lugar totalmente diferente?


Afinal, quanto mede uma língua?


O calor do sol é 5.770 graus kelvin e a sua luminosidade é 2,98 x 1027 candelas (2 oitolhões cd). O nosso planeta tem 1.433 x 1017 segundos (100 quadrilhões s), ou cerca de 4,54 bilhões de anos. É impressionante como a nossa ciência é tão avançada que consegue medir o mundo físico com tamanha precisão.

Figura 2 – A massa da Terra é 5,972 × 1024 kg quilogramas (5 setilhões kg)

Mas, será que existe uma medida para uma quantidade de língua? Qual é o tamanho da língua portuguesa falada no Brasil? Ou do yorubá? Ou do aymara? Afinal, quanto mede uma língua?

A resposta simples e direta para essas perguntas é: não existe uma única medida universal para a língua, e por isso nós não conseguimos saber o tamanho que as línguas têm – pelo menos não do jeito que medimos as quantidades de comprimento, tempo ou massa.

Mas isso não é necessariamente uma coisa ruim. Na verdade, é o contrário.

Em primeiro lugar, já indica que a natureza da língua é diferente da natureza do mundo físico. Em outras palavras, a “matéria” de que a língua é feita não é de átomos para ter ‘massa’ ou quantidade para ter ‘comprimento’, e assim por diante.

Além disso, o fato de que não existe uma resposta positiva para essas perguntas acaba sendo uma coisa boa, porque nos dá a chance de pensar melhor sobre a língua, investigar e fazer pesquisa. A pergunta vale, portanto, como um exercício para compreendermos melhor o jeito que as línguas existem.

Entendendo o que fazer para medir a língua

Para um dia chegarmos a uma resposta positiva e determinar o tamanho da língua com a mesma precisão que conseguimos determinar a massa da Terra, ou o calor do Sol, temos que traçar alguns objetivos, que no nosso caso são:

(1) entender qual é a “quantidade de língua” que estamos medindo; e

(2) estabelecer um padrão de medida, que seja universal.

(i) O que é uma “quantidade de língua”?

10 metros, 5 quilogramas, 180 graus ou 60 segundos são medidas universais porque não dependem de quem está medindo. Enquanto ‘conceito padrão’, 1 metro de corda tem a mesma medida no Brasil, em Fiji ou na Mongólia; mas também na Lua, em Marte ou em qualquer parte do universo. Isso porque o comprimento é uma grandeza universal. Já com a língua, a questão é mais complexa, porque até mesmo o que é universal pode variar (Haspelmath et al., 2005).

Por exemplo, todas as línguas possuem alguma uma função para fazer perguntas, que chamamos de Função Interrogativa. Contudo, as estruturas da Interrogativa variam entre as línguas.

A seguir, estão exemplos em algumas línguas apresentados na forma de glossa interlinear.

Em línguas como o português brasileiro ou o espanhol, a função Interrogativa apresenta uma estrutura fonológica (isto é, dos sons da língua) em que a entonação sobe e fica um pouco mais aguda.

(1) Espanhol

Beafuecontigoal cine
entonação sobe
Beafoicontigoao cinema
‘A Bea foi ao cinema com você?’

Em espanhol, quando o final da oração ‘al cine’ é pronunciado com a entonação subindo, sabemos que é pergunta.

Já outras línguas, como japonês ou francês, podem inserir uma partícula para indicar a Interrogativa.

(2) Francês

Est-ce quela ministre de l’educationparlede l’enseignement supérieur
Partícula
?a ministra da educaçãofalade o ensino superior
‘A ministra da educação fala sobre o ensino superior?’

Em francês, a partícula ‘est-ce que’ não têm significado, a não ser o de indicar que a oração é uma pergunta.

E, por fim, ainda outras línguas, como inglês ou holandês, trocam a ordem das palavras na oração para realizar a Interrogativa.

(3) Holandês

Staanjulliemeestalvroeg op
ordem das palavras
Levantavocêsemprecedo
‘Você sempre levanta cedo?’

No exemplo (3) em holandês, a ordem das palavras staan^jullie [levanta^você] indica que é pergunta. Se não fosse pergunta, a ordem seria jullie^staan [você^levanta]. 

Como é possível perceber, cada língua desenvolve uma forma de se organizar que é diferente das outras línguas. É isso o que significa dizer “o que é universal pode variar”. Voltando à comparação com as grandezas do SI, é como se todas as pessoas adotassem o metro como medida de comprimento, mas em cada país o metro tivesse um tamanho diferente; ou que 1 metro de corda fosse maior que 1 metro de fio elétrico, ou menor que 1 metro de estrada, e assim por diante.

Para a questão da “quantidade de língua”, o nosso problema é: nem todas as línguas têm as mesmas funções. E, mesmo se tivessem, cada língua realiza as funções de forma diferente, o que faz variar, por exemplo, o tamanho, o número de palavras, a ordem das palavras, etc. Assim, não é possível estabelecer uma “quantidade de língua” única.

É bom ressaltar que usamos aqui o exemplo da função Interrogativa, mas as línguas variam em todos os seus recursos. Assim, comparando com o português do Brasil, existem línguas que não têm: singular/plural, masculino/feminino, presente/passado/futuro, preposição, sujeito e predicado, concordância, o verbo ‘ser’, etc…

(ii) será que a intuição ajuda?

Apesar de temos experiência com a língua em quase tudo na nossa vida, essa experiência é apenas sobre o nosso próprio contato com a língua – ou as línguas – que nós falamos. Por isso, a intuição é algo muito particular de cada pessoa. Então, cada falante tem uma “intuição” diferente sobre a língua.

Além disso, se a “intuição” é o nome que damos para relacionar uma quantidade a uma medida (por exemplo, o ‘comprimento’ ao ‘metro’; o ‘tempo’ ao ‘segundo’), Sem uma grandeza universal, não tem jeito de existir “intuição” para saber se uma “quantidade de língua” é muita ou pouca.

Por fim, para encontrar uma medida para a língua, ela deve servir para todas as línguas do mundo. E é impossível termos intuição sobre outras línguas, de outros lugares do mundo, com as quais nunca tivemos contato.

Por exemplo, o kw’adza (Hammarström et al., 2017) era uma língua falada no norte da Tanzânia e que está extinta – não existe mais ninguém no mundo que fala essa língua. Para o kw’adza, nenhuma de nós tem qualquer intuição se uma quantidade de kw’adza é muita ou pouca.

Figura 3 – Região de Mbulo, onde o kw’adza era falado
Fonte: https://www.google.com/maps/place/Mbulu

Para a questão da “intuição”, o nosso problema é: não é possível ter “intuição” sobre as coisas que não temos experiência. Sem uma medida, não é possível ter intuição sobre uma quantidade de língua. 

(iii) qual medida estamos usando?

Uma vez que não temos uma boa intuição sobre a quantidade de língua, então acabamos usando outras grandezas que já são nossas conhecidas, como o comprimento para o número de páginas ou tempo para a duração de uma conversa.

Por isso, é bastante comum pensarmos que um discurso de 5 horas é muita língua e um recado de 5 segundos é pouca. Ou que um livro de mil páginas é grande e um bilhete de 3 linhas é pequeno.

Mas, utilizar essas outras medidas que não são da língua também acaba causando problemas. Vamos examinar algumas delas aqui, que são usadas de costume para medir a língua.

iii.a) número de palavras?

Às vezes as pessoas costumam medir a língua em número de palavras que estão no dicionário da língua. Então se diz que, por exemplo, “o dicionário Houaiss da língua portuguesa tem 230.000 palavras”, ou “o dicionário Collins da língua inglesa tem 120.000 palavras”.

Para começar, o conceito de ‘palavra’ já é complicado, porque muitas línguas do mundo não possuem palavras no sentido de ‘elementos da gramática que formam grupos e orações’.

Vamos examinar este exemplo em nuuchahnulth (Whorf, 1956) – uma língua falada no sudoeste do Canadá. A palavra em nuuchahnulth é a seguinte: ‘tlimshyaisitaitlma’.

(4) Nuuchahnulth

tlimishyaisitaitlma
açãoresultadoaçãoatormovimentocausa
ferverfervidocomerquemir ele fez
‘Ele convidou as pessoas para comer’

Na língua nuuchahnulth, ‘tlimshyaisitaitlma’ é uma só palavra, mas para explicar o que ela significa na língua portuguesa do Brasil, precisamos de usar uma oração completa. Como mostra o Quadro 2,  cada parte da palavra  ‘tlimsh-ya-is-ita-itl-ma’ – que chamamos de morfema – significa alguma coisa nessa língua que, em outras línguas, são significados das palavras e até mesmo mais de uma só palavra.

morfemaexplicaçãotradução
tlimish-ato de ferver no fogocozinhar
-ya-resultado; no caso, é o resultado do ‘ato de ferver no fogo’o que foi cozido; a comida
-is-ação de comercomer
-ita-ator; quem pratica a ‘ação de comer’as pessoas que comem
-itl-indica movimento de ‘quem pratica a ação de comer’, ou seja, para comer as pessoas tem que sair de um lugar e ir para outro lugaras pessoas são convidadas para ir comer
-maquem causa uma ação.
Neste caso, é alguém que faz as outras pessoas saírem do lugar que estão e ir até outro lugar para comer
convidar
Quadro 2: Explicação dos morfemas da palavra ‘tlimshyaisitaitlma’

Como podemos observar, em nuuchahnulth, não existe distinção gramatical entre o que chamamos de ‘palavra’ e ‘oração’.

Figura 4 – Região de Ahousat, onde o nuuchahnulth é falado.
Fonte: https://www.google.com/maps/place/Ahousat

Além do conceito de ‘palavra’ não ser universal, o ‘dicionário’ também não é. A grande maioria das línguas do mundo não possui dicionários, por isso não dá para saber o tamanho exato delas usando esse critério.

Para aumentar a dificuldade, das 7.117 línguas do mundo (ver Ethnologue), somente cerca de metade possui forma escrita. As outras mais de 3.000 línguas são apenas faladas. E ainda existem outras tantas línguas de sinais, que também não possuem palavras.

Por fim, uma língua é muito mais que o conjunto de palavras escritas que as pessoas colocam no dicionário. Para uma medida mais precisa, devemos considerar também outros elementos que constituem a língua. Em nuuchahnulth, por exemplo, a quantidade de morfemas é mais produtiva que a quantidade de palavras.

Existem muitos outros elementos importantes na língua, tais como os grupos de palavras e as conexões entre as orações,

os grupos de palavras: “uma casa”, “esta casa”, “a casa”, “nossa casa”, “linda casa”, etc. querem dizer coisas diferentes, e a diferença não está na palavra ‘casa’, mas nos grupos de palavras combinadas.

as conexões entre as orações: “eu saí e você chegou”, “eu saí mas você chegou”, “eu saí ou você chegou”, “eu saí, você chegou”, “eu saí porque você chegou” etc. também querem dizer coisas diferentes, e a diferença está na relação entre as orações ‘eu saí’ e ‘você chegou’.

Para a questão do “número de palavras”, o nosso problema é: a ‘palavra’ não é uma categoria universal porque nem todas as línguas possuem palavras e, entre aquelas que eventualmente possuem, a maioria não é escrita e nem está dicionarizada. Por fim, uma língua é muito mais complexa que apenas o conjunto de suas palavras. Sendo assim, a “quantidade de língua” não pode ser medida pelo número de palavras.

iii.b) tempo?

Em outras vezes o tempo é usado como medida da quantidade da língua. Por exemplo “a gente conversou por 2 horas” ou “eu levei 5 horas para terminar de ler o livro”.

Aqui o problema é o inverso do anterior. O tempo é característico da língua oral, e assim não consegue capturar o tamanho da língua escrita. Por isso não existe forma de saber o ‘tempo’ de um livro de 200 páginas. Além disso, as pessoas falam em velocidades diferentes dependendo do assunto e da pressa. Por isso, uma mesma medida de tempo pode conter quantidades diferentes de língua.

Para a questão do “tempo”, o nosso problema é: o ‘tempo’ é uma categoria que varia muito dependendo das falantes, além de não servir para a língua escrita.

iii.c) número de falantes?

É comum usar também como medida o número de falantes. Então as pessoas dizem: “a língua espanhola tem 400 milhões de falantes”, ou “a língua japonesa tem 130 milhões”, ou “o krenak possui menos de 1 mil falantes”.

Em primeiro lugar, precisamos entender o que é ‘falante‘.

Em geral, as pessoas entendem como falante de uma língua uma pessoa que fala e escreve de forma fluente na língua oficial do seu país.

Porém, para começar, existem os problemas de política e geografia que entram em conflito linguístico com as noções de “oficial” e “país”. No país chamado ‘Brasil’, por exemplo, são faladas quase 300 línguas, mas apenas o português e a LIBRAS são línguas oficiais. Mas, esta é só uma das definições de ‘falante’.

Por exemplo, uma pessoa que nunca foi à escola e não sabe ler ou escrever, será que ela conta como falante? Ou uma pessoa que lê e entende uma língua, mas tem dificuldade para falar, será que ela também conta? Existem também as pessoas que aprendem as línguas ao longo da sua vida, como estudantes de outras línguas. Será que elas contam?

Além disso, será que o tanto de língua que uma pessoa domina também deve contar? Será que uma adulta é “mais falante” que uma criança de 2 anos? Ou uma escritora profissional é “mais falante” do que uma outra pessoa que só sabe escrever o próprio nome?

Isso também se aplica a falantes estrangeiras. Por exemplo, se uma pessoa é brasileira, mas fala japonês há 30 anos, ela deve entrar nesse número de falantes de japonês? E se essa mesma brasileira começou a estudar espanhol apenas há 1 semana, será que ela deve entrar na medida da língua espanhola?

Para a questão do “número de falantes”, o nosso problema é: o ‘número de falantes’ não pode ser determinado com exatidão, porque pode incluir números de pessoas diferentes, dependendo de como é definido. E, nenhuma das definições sobre o número de falantes consegue capturar uma medida da “quantidade de língua”.

iii.d) todas juntas então? Palavras+tempo+falantes

Se cada uma das formas de medir a quantidade de língua apresenta problemas, então talvez juntar todas possa ser uma alternativa, porque assim o que escapa a uma medida é capturado por outra.

Nesse caso, o método seria então gravar tudo que todas as pessoas falam e escrevem em uma determinada língua e juntar todos os dados em volume de tempo de gravação de fala – por exemplo em horas – e volume de textos escritos – por exemplo em número de páginas.

No final, tudo pode ser convertido em bytes e com isso a língua pode ser medida em “quantidade de informação”.

Esse método de criar um catálogo pode ser uma saída para medir o tamanho das línguas, é o pensamento que damos o nome de “língua como arquivo”. Entretanto, esse método também possui um limite.


A língua como arquivo


O autor uruguaio Eduardo Galeano escreveu no relato ‘A paixão de dizer/1’ do Livro dos Abraços sobre a mulher que conta histórias:

“Essa mulher de Oslo veste uma saia imensa, toda cheia de bolsinhos. Dos bolsos vai tirando papeizinhos, um por um, e em cada papelzinho há uma boa história para ser contada, uma história de fundação e fundamento, e em cada história há gente que quer tornar a viver por arte de bruxaria. E assim ela vai ressuscitando os esquecidos e os mortos; e das profundidades desta saia vão brotando as andanças e os amores do bicho humano, que vai vivendo, que dizendo vai”. (Galeano, 2002, p. 13. Trad. Eric Nepomuceno)

Na imagem de Galeano, a língua está em cada papelzinho, que fica nos muitos bolsos da saia da mulher. Por isso a saia tem muitos, muitos bolsos, que é para contar a história de cada pessoa.

Agora, vamos imaginar que, além das histórias, nos papeizinhos estivesse registrado tudo o que cada pessoa diz e escreve durante toda a sua vida. Certamente a saia deveria ter infinitos bolsos, e cada bolso teria infinitos papeizinhos.

Se transpusermos o relato de Galeano para a vida real, isto seria impossível de acontecer, porque não existe papel no mundo que seja suficiente para registrar tudo o que todo mundo diz ou escreve o tempo todo.

A ideia é, retomando a imagem do Galeano, que se tudo for escrito nos papeizinhos que estão nos bolsos da saia, um dia o mundo inteiro vai acabar sendo tomado por eles e não vai existir espaço para mais nada existir no mundo. Se cada átomo do planeta Terra pudesse ser transformada em papel, então o máximo possível de arquivar seria uma quantidade de papel do tamanho da própria Terra.

É claro que esta é uma ideia exagerada, e por isso mesmo é impossível de acontecer. Mas, ela serve como um exercício de pensamento para mostrar que qualquer tentativa nossa de medir a língua como um arquivo que contém todos os falantes, todas as palavras e tudo o que as pessoas dizem não funciona, porque não existe um lugar para armazenar toda essa quantidade de língua.

Nem mesmo na nossa era digital, com os computadores e a nuvem. Apesar de um texto, ou uma gravação de voz ocupar menos espaço em formato digital do que um livro de papel, ainda assim ocupa espaço. Então, vai levar mais tempo, mas no fim das contas, o mundo inteiro iria se tornar um imenso HD e, depois disso, nada mais poderia ser arquivado.

A tentativa de medir a língua partindo da ideia de que é possível criar um arquivo acaba levando a esse beco sem saída. O que nos resta, portanto, é imaginar que a natureza da língua é diferente.

Partindo da ideia de como a língua humana evoluiu – por um lado, junto com o desenvolvimento do nosso cérebro, o nosso corpo, a voz humana e, por outro lado, com a formação das sociedades e culturas – vamos então substituir a ideia de ‘íngua como arquivo’ por uma outra, a ‘língua como onda’, seguindo a sua natureza original.


A língua como onda


Primeiramente, precisamos definir qual é o conceito de ‘onda’ que estamos usando aqui.

Um exemplo bastante comum para explicar a onda é o seguinte. Vamos imaginar uma lagoa totalmente calma e nós jogamos uma pedra no meio dela. O que acontece em seguida é que a energia da pedra batendo na água provoca uma onda circular que vai abrindo por toda a lagoa.

Esse exemplo ilustra que, para a onda existir, é preciso em primeiro lugar um meio (como por exemplo a água). Além disso, é preciso também ter uma fonte de energia que é aplicada ao meio. No caso, é a pedra que nós jogamos. A essa aplicação de energia damos o nome de ‘perturbação’ – esse processo é o que chamamos de ‘onda’.

Figura 5 – A onda como perturbação de um meio.

O ar também é um meio que, quando é perturbado a partir de uma fonte de energia, produz ondas. Nós percebemos as ondas do ar como som, que é captado pelo nosso aparelho auditivo. Por isso, esse tipo é chamado de ondas sonoras. Então, o barulho de um motor de carro, a música vinda de um violão, o rangido de uma porta enferrujada ou o latido de um cachorrinho são todas ondas sonoras.

Figura 6 – Representação de ondas sonoras da língua humana no software Praat

Uma vez explicado o conceito de ‘onda’, qual é a relação que ele tem com a língua? Afinal, por que entender a língua como onda é importante?

A resposta é: sempre que existir um meio e uma fonte de energia para perturbar um meio, as ondas vão sendo criadas. Assim, em tese, enquanto existir energia perturbando um meio as ondas podem ser criadas infinitamente. A língua se encaixa nessa definição também: enquanto existir uma fonte de energia para produzir a língua, ela vai ser criada para sempre.

É esse o motivo pelo qual não conseguimos encontrar uma medida da língua, ou uma quantidade na forma tradicional semelhante ao SI. É porque a língua é infinita.

Por isso, atenção: ‘língua como onda’ não é apenas uma imagem, ou uma metáfora. Ao contrário, é de fato a forma como descrevemos a produção linguística (isto é, a quantidade de língua que é produzida por suas falantes).

Para entender melhor o conceito de ‘língua como onda’ e as implicações disso para medir o tamanho, precisamos agora explicar algumas características de como a língua está organizada.

Dois tipos de energia

A língua humana é um fenômeno complexo. Por isso, para entender como ela funciona, é preciso dividir a língua em mais de um nível.

O nome técnico que damos para um nível da língua é ‘estrato‘. O termo ‘estrato’ vem da palavra em latim ‘stratum (camada ou cobertura)’. A língua possui duas camadas. A primeira camada – isto é, o primeiro estrato – representa os sons daquilo que falamos. O segundo estrato representa as regras e o sentido do que falamos.

No primeiro estrato, além dos sons da língua, estão também os gestos no caso das línguas de sinais e letras e caracteres no caso da língua escrita. No segundo estrato está o que chamamos de ‘gramática’ – ou o conjunto de regras e organização de como a língua deve funcionar – e a ‘semântica discursiva’ – ou a forma como a língua produz os textos (falados e escritos).

O nome técnico que damos para (i) o primeiro estrato é expressão da língua, que tem origem na voz humana, propagada na forma de ondas sonoras, e (ii) o segundo estrato é o conteúdo da língua, que tem origem no cérebro humano, através do nosso pensamento, e na interação entre os falantes, através dos textos falados e escritos que trocamos com as outras pessoas.

É importante destacar que, no caso das línguas de sinais como a LIBRAS, a sua expressão é propagada pelas ondas de luz (chamadas de ondas luminosas), captadas pelo nosso aparelho visual.

Figura 7 – Estratos da expressão e conteúdo da língua

(i) A expressão da língua é a capacidade que nós, seres humanos, temos de produzir ondas (sonoras ou luminosas) com um formato específico – um som específico ou um gesto específico – capaz de ser entendido por outras pessoas como sendo um som ou gesto que é particular de uma língua, e que por isso é diferente de um outro barulho ou movimento qualquer.

Na expressão da língua, a voz humana é feita de ondas sonoras e o movimento dos gestos é feito de ondas luminosas. Nesse caso, usamos a energia dos músculos do aparelho fonador – que inclui órgãos como as cordas vocais e a língua – para fabricar as ondas da nossa fala; ou os músculos dos nossos braços, mãos, tronco e rosto para fabricar as ondas dos gestos.

Quando escutamos uma língua que não conhecemos, estamos captando essa expressão. Isto é, conseguimos perceber apenas o primeiro estrato da língua, e sabemos que aquelas ondas sonoras são produzidas pela voz humana, mas não temos a capacidade de entender o conteúdo, ou o sentido do que as pessoas estão dizendo. Quando, ao contrário, escutamos uma língua que conhecemos, nós captamos a expressão da língua pela voz humana, mas também conseguimos entender o segundo estrato, aquele do conteúdo da língua.

(ii) O conteúdo da língua é a maneira que nós, os seres humanos, organizamos o mundo semiótico – ou o sentido que damos para o mundo através da nossa língua.

A palavra ‘semiótico‘ vem do verbo grego ‘σημείω (sēmeíô “produzir um sinal ou uma marca”)’ e quer dizer ‘produzir significado; criar sentido’. O mundo semiótico é feito do sentido que damos para as coisas por meio da língua. Assim, os objetos do mundo possuem uma existência física, mas também uma existência simbólica para nós humanos.

O mundo humano é semiótico porque não é feito apenas de coisas materiais, como ‘água’, ‘terra’, ‘pedra’ e ‘ferro’. Ele é feito também de coisas abstratas, como ‘educação’, ‘amor’ ou ‘vida’, e de outras que são puramente simbólicas, como ‘família’, ‘lei’, ou ‘nacionalidade’.

Então, ‘família’ não é “um grupo de pessoas vivendo juntas”, mas sim o que cada pessoa simboliza para esse grupo – como por exemplo ‘irmã’, ‘avó’, ‘tia’ – e pensar, falar e se comportar como tal.

Por isso ‘avó’ nada mais é do que o significado que simboliza ‘uma série de pensamentos, falas e comportamentos esperados de uma avó’; ‘irmã’ nada mais é do que o significado que simboliza ‘uma série de pensamentos, falas e comportamentos esperados de uma irmã’, e assim por diante.

Da mesma forma, ser ‘brasileira’, ‘ugandesa’ ou ‘malaia’ não é uma condição do mundo físico, mas, ao contrário, é totalmente simbólica. Ser ‘brasileira’, por exemplo, significa possuir uma série de textos: certidão de nascimento, carteira de identidade, CPF, passaporte brasileiro, etc. e pensar, falar e se comportar de uma determinada forma, que é reconhecida como ‘brasileira’.

Com isso, o papel do conteúdo da língua é criar significado para as coisas e os acontecimentos do mundo, de forma a dar sentido para as atividades da nossa vida e para as relações com as outras pessoas. O conteúdo da língua utiliza a energia semiótica do nosso cérebro – ou seja, a capacidade que o cérebro humano tem para entender e produzir significado – e a energia semiótica da interação entre as pessoas que falam a língua (utilizando a energia dos músculos do corpo).


VAI UM LINGUISTA AÍ?


E assim chegamos ao ponto crucial do problema que estamos tratando aqui – a medida da língua.

A conclusão em que chegamos é a seguinte: é impossível medir o tamanho da língua, porque a língua é feita de ondas e por isso é infinita. Enquanto existir energia no cérebro humano para entender e produzir língua, bem como para interagir com outras pessoas; e enquanto existir energia nos músculos para movimentar o aparelho fonador e produzir ondas sonoras, a língua humana pode ser criada infinitamente.

Sem o conhecimento da Ciência da Linguagem, as pessoas tendem a medir a língua por comparação com outras medidas, como o metro, o quilograma ou o segundo. E assim medem a língua em número de palavras ou quantidade de falantes.

Porém, depois de refletir um pouco e utilizar um conhecimento técnico da Linguística, podemos entender que esta é uma questão mais complexa e pode começar a ser entendida a partir do conhecimento sobre a ‘estratificação’ da língua – ou seja, do conhecimento de que a língua é dividida em mais de um estrato – nós podemos pensar com mais detalhes sobre a questão da medida da língua de uma maneira diferente.

Quando as pessoas tentam medir o tamanho da língua usando o número de palavras, ou de páginas escritas, ou do tempo que as pessoas falam, elas estão, na verdade, imaginando a língua como um arquivo, como se fosse um depósito das coisas que são faladas ou escritas.

Segundo esse ponto de vista, portanto, a língua portuguesa do Brasil é um arquivo onde estão guardadas todas as falas e todas as escritas de todas as pessoas desde quando a língua nasceu até o dia de hoje. Porém, vimos que esta visão possui limites, sendo mais destacados os problemas de que é impossível estabelecer o número de palavras, a quantidade de falantes, ou criar um arquivo para toda a língua.

Quando entendemos que a língua é estratificada, esses problemas ressaltam e surge ainda um limite maior para essa visão: o arquivo só é capaz de guardar um dos estratos da língua, que é a expressão – só dá para arquivar som, imagem ou letra. Como consequência, uma gravação de voz, um vídeo de gestos, ou uma página escrita contêm somente a expressão da língua. Já o conteúdo depende das pessoas falantes e da interação entre elas. Mais especificamente, dependem do cérebro das pessoas e de sua necessidade de usar a língua e, com isso, interagirem com outras pessoas que também usam a mesma língua.

As necessidades de falar e escrever – isto é, as necessidades de produzir significado – surgem nas situações em que as pessoas precisam dar sentido ao mundo à sua volta, e precisam se relacionar com as outras pessoas. E nada disso tem como ser arquivado em uma folha de papel, em um HD ou na nuvem.

Por isso, a visão alternativa à da língua como arquivo é a da língua como onda. Segundo esta última, a língua pode ser produzida para sempre, desde que exista uma fonte de energia para perturbar o meio. No caso da língua, para além da energia muscular que produz ondas sonoras e luminosas (relacionada ao estrato da expressão) a energia semiótica é de fundamental importância.

A energia semiótica vem do funcionamento do nosso cérebro e, ao mesmo tempo, da interação entre as pessoas. É aí que a língua existe: na capacidade do cérebro de cada falante para entender e produzir significado, e também de interagir com outras falantes e construírem juntas o sentido do mundo.

Para este ponto de vista, a resposta da pergunta: “qual é o tamanho da língua?” é “a língua tem exatamente o tamanho que ela deve ter”. Essa resposta significa o seguinte: o conjunto de falantes de uma língua (os cérebros + as interações) possuem necessidades de criar significados para resolver os problemas das mais diversas ordens: entender como o mundo funciona e saber como organizar os grupamentos e atividades humanas – a família, a vizinhança, o governo, o trabalho, a educação, as crenças e valores, etc.

A cada nova necessidade, os falantes se valem da energia semiótica (dos cérebros e das interações) e criam significados novos, o que quer dizer, aumentam o tamanho da língua.

Quando a língua é vista dessa forma então ela finalmente pode ser medida.

Afinal, qual então é a medida da língua?

A unidade para medir a língua é sua energia semiótica – ou seja, da capacidade do cérebro humano de interpretar o mundo e de interagir com as outras pessoas. O que então pode variar é a capacidade de produzir significado, que depende das necessidades dos grupos de falantes. Quanto mais necessidades, mais recursos a língua precisa. Em outras palavras, situações simples requerem pouca energia semiótica, e situações complexas requerem muita energia semiótica.

Como analogia: um forno a 180 graus precisa de menos calor que um fogo a 300 graus, mas a medida continua sendo a mesma (grau). Igualmente, um cômodo escuro requer poucas candelas, já outro iluminado requer muitas candelas, contudo a medida ‘candela’ é a mesma.

Então, uma situação simples, como por exemplo cumprimentar uma pessoa na rua com um “bom-dia!” ou anotar um recado requer pouca energia. Já uma situação complexa, como por exemplo, escrever uma redação do ENEM, fazer uma entrevista de emprego, reclamar na prefeitura que a nossa rua precisa ser asfaltada ou ler um livro de poesia requer muita energia.

Apesar de todas as línguas terem o mesmo tamanho, elas são diferentes. Isto porque as línguas faladas em grupos humanos que desenvolveram situações mais complexas produzem uma quantidade maior de significados e por isso utilizam mais energia semiótica. Já os grupamentos humanos que vivem em situações mais simples, produzem menos significados e utilizam menos energia semiótica.

Por exemplo, nossa vida na família é mais simples que nossa vida na escola, que é mais simples que nossa vida no trabalho. Isto porque a situações familiares são mais simples que as escolares, que por sua vez são mais simples que as de trabalho. Um reflexo disso é a quantidade de significados que precisamos produzir e o número de pessoas com as quais precisamos interagir na família, na escola e no trabalho.

Da mesma maneira, um grupamento humano que vive da coleta de alimentos desenvolve situações mais simples que um outro que vive da agricultura, que por sua vez se encontra em situações mais simples que um outro grupamento da sociedade tecnológica digital.

Há 15 mil anos, os grupamentos humanos não precisavam se preocupar com seleção de sementes, plantio, controle de pragas, colheita, armazenamento, troca de mercadorias, previsão do tempo, dança da chuva, festival do milho, etc. Por isso, não havia situações e nem língua para produzir textos como “manual de plantio”, “dicas para controlar pragas”, “coreografia da dança da chuva”, “relatório da previsão do tempo” ou “canções do festival da colheita”.

Há 10 mil anos, quando os grupamentos passaram a viver da agricultura, não precisavam se preocupar com a vida urbana, com governo centralizado, transmissão acelerada de informação, educação formal, saneamento, indústria de serviços e entretenimento etc.

Por isso, ninguém que vivia do plantio e colheita (naquela época antes mesmo de existirem as primeiras cidades) precisava de situações em que a língua tivesse que produzir textos como “Ata da 45a reunião ordinária”, “Tabela de jogos do campeonato brasileiro de futsal infantil: fraldinha sub 09”, “Ecologia da comunidade de metazoários parasitos no Brasil”, “10 maneiras de ganhar dinheiro sem sair de casa”, “Aumento da velocidade do wi-fi e qualidade geral da conexão sem fio”, ou “Formulário de declaração do imposto de renda”.

Assim, em conclusão, uma medida para a língua é a quantidade de recursos que ela possui para produzir significado aliada às necessidades que variam segundo o momento histórico e as demandas da sociedade falante sobre a língua. Por isso então todas as línguas humanas são exatamente do mesmo tamanho, e o que varia é a energia semiótica que cada língua utiliza dependendo das situações e da complexidade das sociedades. Afinal, a capacidade cerebral humana é a mesma e a capacidade de viver em grupos sociais também é. Todos nós seres humanos temos o mesmo cérebro; todos vivemos em grupos; e todos moramos, juntos, neste mesmo planeta.

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